Basta observar as brincadeiras de meus netos para despertar um passado repleto de magia, um passado recheado de alegria e coberto pela natureza, era a terra fértil que fazia a alegria numa época distante; é lá, no meio da poeira vermelha, em liberdade, que vive a fonte dessa história que a partir de agora vai minar.
Eu moro no Lavras, ele tem esse nome pois dizem que aqui já existiu lavra de ouro; um lugar humilde da periferia da cidade de Guarulhos, aqui moram pessoas muito simples e tem muita gente do Nordeste.
Quando eu vim para cá dezenas de ruas eram sem asfalto, não tinha esgoto e tão pouco água encanada, só existia uma escola, que hoje é a que meus netos estudam, nos terrenos vazios havia plantações de milho e cana, tinha também uma lagoazinha que apesar de pequena, despertava os sonhos e a imaginação de menina: eu, Hilda, era sereia, peixe, princesa, ali eu dava muitas gargalhadas.
Pegava uma laranja no pé e com minha parceira de aventura, a Jurema, brincávamos de laranja-peteca, era super divertido! Hoje a lagoa foi aterrada e o espaço ocupado por uma linda e nova escola.
Fecho os olhos e vejo uma pequena casinha no meio de uma grande mata, onde se encontra atualmente um supermercado, pequenos sacolões transformaram-se em lojas de utilidades e muitas casas em comércios.
Recordo-me de quando andava no meio das plantações da Estrada das lavras, hoje, estrada de Itaberaba, à procura de espigas de milho e folhas de bananeiras, colhia e ia para casa, daquelas espigas surgiam tranças e o poder da minha imaginação criava uma linda boneca, seu cobertor era feito com uma folha de bananeira, os tijolos fabricados nas olarias dos arredores serviam como mesa e cama para as bonecas, enfim, tudo o que eu era capaz de inventar.
O tempo passou, o bairro cresceu, cresceu a passos largos, apesar de humilde e carente, tem a colaboração dos pais de família que trabalham duro; as donas de casa fazem a reciclagem que além de favorecer um dinheiro a elas, colabora para a preservação do meio ambiente, com a limpeza do bairro e o crescimento da nossa cidade.
Aqui tudo é alegria, a cultura é rica e o povo solidário, longos anos de sofrimento nos fez valorizar os resultados das grandes conquistas de homens simples e trabalhadores.
O tempo passa, meus netos estão crescendo, e nós tentamos extrair do Lavras o que ele tem de mais valioso que é o desejo de ver os seus filhos crescerem num lugar de paz, sem violência, irem para a escola e tornarem-se gente de bem.
Autora: Agatha Carvalho Silva, 14 anos aluna da 7ªB da Escola Estadual Prof. Ilia Zilda Innocenti Blanco.
Texto baseado na entrevista de Hilda da Silva Santana, 62 anos, moradora do Bairro Lavras – Guarulhos - SP
