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quarta-feira, 24 de março de 2010

Isto é muito engraçado, todavia, estude,leia, pesquise, para não cair nestas armadilhas - Pérolas do Enem

Algumas Pérolas do ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio


Pérolas do ENEM (safra 2004):
Os comentários também são divertidos, pelo menos alguns...

1) - Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio.
(Já imaginou?)

2) - A harpa é uma asa que toca.
(Imagine a definição para Trombone de Vara...)

3) - O vento é uma imensa quantidade de ar.
(Não tinha pensado nisso...)

4) - O terremoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas.
(Só faltou completar que esse movimento é um braço armado do MST!)

5) - Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor.
(Nada mais justo. Não dá para viver a eternidade desconfortavelmente...)

6) - Péricles foi o principal ditador da democracia grega.
(Isso. E Stalin foi o principal seguidor de Mahatma Ghandi... )

7) - O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades.
(deve ter raciocinado com abundância e não com o cérebro...)

8) - O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se afogavam dentro d'água.
(Sim, por isto o Petróleo é preto. Está de luto...)

9) - A principal função da raiz é se enterrar.
(Profunda!!! )

10) - A igreja, ultimamente, vem perdendo muita clientela.
(Podemos concluir que a culpa é do Papa, que seria o VP de Marteking! E a Companhia de Jesus, seria a mais antiga das SA's)

11) - O sol nos dá luz, calor e turistas.
(Esse com certeza é cearense ou baiano. )

12) - As aves tem na boca um dente chamado bico.
(É para ficar de queixo caído! Ou melhor, de porta bicos caído...)

13) - A unidade de força é o Newton, que significa a força que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo, no sentido contrário.
(Simples, não???)

14) - Lenda é toda narração em prosa de um tema confuso.
(Assim, todo discurso de político é uma Lenda. )

15) - O nervo ótico transmite idéias luminosas ao cérebro.
(Se o cara é vesgo, o nervo dele deve transmitir idéias tortas e sombreadas...)

16) - A febre amarela foi trazida da China por Marco Polo.
(Se Marco Polo tivesse viajado para a África, teria sido a peste negra, então..)

17) - Os ruminantes se distinguem dos outros animais porque o que comem, comem por duas vezes.
(Impressionante!!!.)

18) - O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia.
(Ufa... que alívio! Já o cérebro?!)

19) - Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive se for empalhado.
(Superou qualquer expectativa...)

20) - A insônia consiste em dormir ao contrário. (Perfeito. Morrer deve ser viver ao contrário...) 21) - A arquitetura gótica se notabilizou por fazer edifícios verticais.
(Melhor pular essa.... )

22) - A diferença entre o Romantismo e o Realismo é que os românticos escrevem romances e os realistas nos mostram como está a situação do país.
(É... E ainda faltam muitas para comentar.... )

23) - O Chile é um país muito alto e magro.
(Coitada da Espanha...)

24) - As múmias tinham um profundo conhecimento de anatomia.
(Essa deve ser a mais "marcante" de todas. )

25) - O batismo é uma espécie de detergente do pecado original.
(Já a confissão poderia ser o sabonete, para uso diário... )

26) - Na Grécia a democracia funcionava muito bem porque os que não estavam de acordo se envenenavam.
(Pensando bem, não é má idéia...)

27) - A prosopopéia é o começo de uma epopéia.
(E a centopéia???)

28) - Os crustáceos fora d'água respiram como podem.
(Coragem, faltam poucas.)

29) - As plantas se distinguem dos animais por só respirarem a noite.
(Que perspicácia! )

30) - Os hermafroditas humanos nascem unidos pelo corpo.
(Já pensou se a pergunta fosse "o que são xifópagos"???)

31) - As glândulas salivares só trabalham quando a gente tem vontade de cuspir.
(Bem, já chegamos até aqui.... )

32) - A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos.
(CEGOS DESSE MUNDÃO... TENHAM FÉ!!!)

33) - Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia.
(O que que é isso???!!!!!)

34) - O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas.
(maravilhaaaa....)

35) - A Previdência Social assegura o direito a enfermidade coletiva.
(Faz sentido...)

36) - O Ateísmo é uma religião anônima.
(Não lhe perguntem sobre o Politeísmo, pelo amor de Deus!)

37) - A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos.
(Ai, Jesus...)

38) - O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo.
(Fala sério... Não dá uma sensação de vazio, de impotência?...)

39) - Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto.
(Graças a Deus, só falta uma..... )

40) - Caracter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais.
(Imagina a aparência de uma prostituta depois de 15 a 20 anos de "Modificações morfológicas")

Mais uma geração PERDIDA... até quando vamos chamar a isso, 'educação'... ?

Fonte: http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_SP/Diversoes/PerolasDoENEM.htm

Mais sobre Crônicas

Origem e desenvolvimento da Crônica


A palavra crônica deriva do Latim chronica, que significava, no início da era cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos.

No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Ela apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal de Débats, publicado em Paris.

Esses textos comentavam, de forma crítica, acontecimentos que haviam ocorrido durante a semana. Tinham, portanto, um sentido histórico e serviam, assim como outros textos do jornal, para informar o leitor. Nesse período as crônicas eram publicados no rodapé dos jornais, os "folhetins".
Essa prática foi trazida para o Brasil na segunda metade do século XIX e era muito parecida com os textos publicados nos jornais franceses. Alencar foi um dos escritores brasileiros a produzir esse tipo de texto nesse período .
Com o passar do tempo, a crônica brasileira foi, gradualmente, distanciando-se daquela crônica com sentido documentário originada na França. Ela passou a ter um caráter mais literário, fazendo uso de linguagem mais leve e envolvendo poesia, lirismo e fantasia.

Diversos escritores brasileiros de renome escreveram crônicas: Machado de Assis, João do Rio, Rubem Braga, Rachel de Queiroz, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Henrique Pongetti, Paulo Mendes Campos, Alcântara Machado, etc.

Ainda hoje há diversos escritores que desenvolvem esse gênero, publicando textos em jornais, revistas e sites.


Características da Crônica


A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado no jornal. Este, como se sabe, é um veículo de informação diário e, portanto, veicula textos efêmeros. Um texto publicado no jornal de ontem dificilmente receberá atenção por parte dos leitores hoje.

O mesmo tende a acontecer com a crônica. O fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições.

Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se alimenta dos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica.

Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém.

Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia.

A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista.

Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam.

Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.



Desvendando a crônica


Adiante, você verá algumas dicas para escrever sua própria crônica. Mas, caso você ainda não esteja muito confiante, aqui vai uma atividade que pode ajudá-lo a observar melhor esse gênero literário.

"Escândalos derrubam financista japonês"

Essa manchete foi publicada no jornal Folha de S. Paulo no dia 23 de julho de 1991. Com base nela, Ricardo Semler escreveu a crônica abaixo.

Crônica publicada no jornal Folha de S. Paulo, em 28 de julho de 1991.

É de puxar os olhos

E o camarão se mexeu. O danado estava vivo! Posso parecer um pouco caipira, já tinha comido peixe cru em restaurante japonês, mas cru e vivo, nunca! Foi só pegar no bicho com os tais pauzinhos e vuupt, o camarão deu um salto de samurai de volta para o prato. E assim progredia a visita ao Japão...
Descer no aeroporto de Narita leva à reflexão sobre o que incentiva milhares de nisseis a abandonarem o Brasil à procura de uma oportunidade no Japão. Logicamente, ganhar dinheiro verdadeiro é uma razão. Em vez de trocarem o seu esforço por uma moeda-piada do tipo cruzeiro, cruzado ou cruz-credo, o conforto de botar alguns iens no banco e saber que ainda estará lá quando for verificar o extrato. Até aí tudo bem. Mas fico pensando se o desespero é parte vital da decisão e se os nossos nisseis sabem no que estão se metendo.
Esta semana foi interessante aqui. A primeira-ministra da França, Edith "menina-veneno" Cresson, disse que os japoneses não sabem viver, que mais parecem umas formigas. O pessoalzinho daqui ficou uma vara. Passados alguns dias, bomba em cima de bomba com casos magistrais de corrupção nos mais altos níveis (ao leitor distraído reafirmo que estou em Tóquio e não em Brasília). Começou com o Marubeni, acusado de desvios de propinas para políticos. Aí, foi a vez da Nomura, a maior corretora de bolsa de valores do mundo, que andou desviando dinheiro e dando propina para políticos. E, para finalizar a novela da semana, a Itoman vê os seus executivos saírem algemados por envolvimento em - pasmem! - desvio de fundos e propinas para políticos. E foram três casos totalmente independentes um do outro...
Rumar para o Japão à procura do pote de ouro do fim do arco-íris é uma ingenuidade. O Japão é moderno, mas as suas tradições milenares desafiam qualquer análise ou compreensão superficial. É a meca da inovação, mas é também o país que mais copiou produtos na história industrial. Tem ares de liberdade de mercado, mas é uma das nações mais protecionistas e paternais do globo. É líder em tecnologia em diversas áreas, mas só deixa japoneses legítimos assumirem qualquer cargo de importância nas empresas. Fã do capitalismo livre, é mestre inigualável de intervenção estatal e poupança forçada. É nação orgulhosa de sua raça, mas os seus ídolos de comerciais não têm nem mesmo os olhos puxados, a exemplo de um comercial muito popular por aqui com o nosso "acerera A-i-roton"! Aos nisseis que pensam em vir para cá, cabe a mesma reflexão que vale para Nova Jersey ou Lisboa. Todas as nações têm muito a ensinar, mas também muito a aprender. Nivelar as expectativas com os pés no chão fará com que nossos imigrantes voltem algum dia ao Brasil para ajudar a desatolar o nosso país com o que vivenciaram fora. É bom colocar tudo no prato para evitar, como no caso do meu camarão rebelde, que se acabe comendo cru...


Texto extraído do livro
Embrulhando o Peixe - Crônicas de um Empresário do Sanatório Brasil. Ricardo Semler. Editora Best Seller. 2ª ed. São Paulo. 1992. p. 58 - 59.


Faça a sua crônica!!

Agora é a sua vez!

Ao ler crônicas, você conhece a visão de mundo daquela pessoa que escreveu o texto. Tão interessante quanto isso é você mesmo tentar encontrar a sua forma de ver e questionar o mundo ao seu redor. Como? Escrevendo sua própria crônica. Além de observar mais atentamente as pessoas e situações que fazem parte do seu dia-a-dia, você estará exercitado sua redação ao tentar construir textos claros e, ao mesmo tempo, criativos.
As etapas abaixo podem servir como um guia caso você esteja começando a se aventurar pelo mundo da crônica. Com o tempo, você desenvolverá seu próprio processo criativo e o texto surgirá de forma natural, sem que seja necessário seguir etapas definidas.


Etapas para escrever sua crônica:

1. Escolha algum acontecimento atual que lhe chame a atenção. Você pode procurá-lo em meios como jornais, revistas e noticiários. Outra boa forma de encontrar um tema é andar, abrir a janela, conversar com as pessoas, ou seja, entrar em contato com a infinidade de coisas que acontecem ao seu redor. Tudo pode ser assunto para uma crônica.
É importante que o tema escolhido desperte o seu interesse, cause em você alguma sensação interessante: entusiasmo, horror, desânimo, indignação, felicidade... Isso pode ajudá-lo a escrever uma crônica com maior facilidade.


2. Muito bem. Agora que você já selecionou um acontecimento interessante, tente formular algumas opiniões sobre esse fato. Você pode fazer uma lista com essas idéias antes de começar a crônica propriamente dita.
Frases como as que seguem abaixo podem ser um bom começo para você fazer a sua lista:

"Quando penso nesse fato, a primeira idéia que me vem à mente..."
"Na minha opinião esse fato é..."
"Se eu estivesse nessa situação, eu..."
"Ao saber desse fato eu me senti..."
"Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que..."
"A solução para isso..."
"Esse fato está relacionado com a minha realidade, pois..."

Como você deve ter notado, é muito importante que o seu ponto de vista, a sua forma de ver aquele fato fique evidente. Esse é um dos elementos que caracterizam a crônica: uma visão pessoal de um evento.


3. Agora que você já formou opiniões sobre o acontecimento escolhido, é hora de escrever sua crônica. Seu ponto de partida pode ser o próprio fato, mas esse também pode ser mencionado ao longo do texto, como ocorre na crônica exemplificativa de Ricardo Semler.

Escreva! Pratique! E procure usar a criatividade para criar seu próprio estilo, pois é isso que faz de um escritor um bom cronista.

Fonte: http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/cronicas/cronicakonder01.htm

Gêneros Textuais - O que é uma crônica?

Crônica

Gênero entre jornalismo e literatura

Alfredina Nery*
Especial para a Página 3 - Pedagogia e Comunicação

Assim como a fábula e o enigma, a crônica é um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as principais características da crônica, técnicas de sua redação e terá exemplos.

Uma das mais famosas crônicas da história da literatura luso-brasileira corresponde à definição de crônica como "narração histórica". É a "Carta de Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha", na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da crônica como gênero que comenta assuntos do dia-a-dia. Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis:

O nascimento da crônica

“Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est rompue está começada a crônica. (...)

(Machado de Assis. "Crônicas Escolhidas". São Paulo: Editora Ática, 1994)

Publicada em jornal ou revista onde é publicada, destina-se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos.

A crônica se diferencia no jornal por não buscar exatidão da informação. Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que acontecem, a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo, singular.

O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse leitor é que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê maior atenção aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos acontecimentos do dia-a-dia comuns nas grandes cidades.

Jornalismo e literatura
É assim que podemos dizer que a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um recebe a observação atenta da realidade cotidiana e do outro, a construção da linguagem, o jogo verbal. Algumas crônicas são editadas em livro, para garantir sua durabilidade no tempo.

Leia a seguir uma crônica de um dos maiores cronistas brasileiros:

Recado ao Senhor 903

“Vizinho,

Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
[...] Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: ‘Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou’. E o outro respondesse: ‘Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela’.
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.”

(Rubem Braga. "Para gostar de ler". São Paulo: Ática, 1991)

Fato corriqueiro...
Há na crônica uma série de eventos aparentemente banais, que ganham outra "dimensão" graças ao olhar subjetivo do autor. O leitor acompanha o acontecimento, como uma testemunha guiada pelo olhar do cronista que tem a pretensão de registrar de maneira pessoal o acontecimento. O autor dá a um fato corriqueiro uma perspectiva, que o transforma em fato singular e único.

No caso da crônica "Recado ao Senhor 903", há uma crítica à desumanização na cidade grande, na qual somos, muitas vezes, apenas números e não pessoas. O surpreendente é a inversão proposta pelo narrador ao final da crônica: no lugar da intolerância, tão comum nas cidades grandes, ele propõe um possível acolhimento amigo.

Outro aspecto é que as personagens das crônicas não têm descrição psicológica profunda, pois, são caracterizadas por uma ou duas características centrais, suficientes para compor traços genéricos, com os quais uma pessoa comum pode se identificar. Em geral, as personagens não têm nomes: é a moça, o menino, a velha, o senador, a mulher, a dona de casa. Ou têm nomes comuns: dona Nena, seu Chiquinho, etc...

Análise da linguagem

1) Intenção e linguagem
O narrador-personagem da crônica (ou remetente da carta ao vizinho) reconhece que faz barulho e por isto pede desculpas. Veja, assim, as palavras e afirmações que usou para construir essa idéia: "consternado", "desolado", "lhe dou inteira razão", "O regulamento do prédio é explícito", "Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso", "Peço desculpas", "Prometo silêncio".

No entanto, através de ironias, o narrador reconhece sua falta, mas explicita que não concorda com a situação, uma vez que a aborda também de outro ângulo, problematizando as relações entre as pessoas e não simplesmente aceitando a situação como algo imutável. E faz isso, especialmente, quando:

# ironiza a estruturas dos prédios em que as pessoas ficam empilhadas, perdendo o contato humano;
# refere-se a todos os vizinhos, incluindo ele próprio, pelo número do apartamento e não pelo nome;
# critica o isolamento e a distância entre as pessoas cujas vidas estão limitadas pelas normas que cerceiam o convívio humano;
# sonha com outra relação mais humana e fraterna, entre as pessoas.

2) Ironia e humor

a) Veja como o narrador usa uma fina ironia quando fala de si mesmo e dos motivos das reclamações do vizinho:

"Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua." Verifique ainda como o uso do elemento "apenas", usado duas vezes intensifica a sua exclusão em relação aos demais moradores do prédio.

b) O excesso de referência a números acaba por criar um efeito de humor e crítica social:

"Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h 45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h 15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305."

Enfim, o efeito de humor tem a ver com:

# o contraste entre uma situação e outra: os que mantêm silêncio e pessoas, como o narrador, que não o fazem;
# o inesperado: o texto parece se encaminhar para um sentido e bruscamente aponta para outro.

3)Uso de verbo

Quando o narrador quer sonhar com uma outra situação em relação, não só à sua vizinhança, mas também à vida na cidade grande, veja que ele constrói essa idéia usando verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo, o que indica possibilidade/desejo/hipótese:

"Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: 'Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou'. E o outro respondesse: 'Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela'.

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

4)Uso dos artigos

Releia os trechos:

a) "Quem fala aqui é o homem do 1003.".

Foi usado o artigo definido ( o ), quando o narrador refere-se a si mesmo, particularizando, dessa forma, um indivíduo, entre outros.

b) "Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse (...). E o outro respondesse (...)"

Há artigo indefinido ("um homem"), quando foi introduzido um elemento ainda não citado no texto, generalizando-o. Há artigo definido ("o outro"), quando novamente se tem um indivíduo já citado, particularizando-o.

Veja que essas escolhas lingüísticas vão constituindo a ligação/coesão entre as partes do texto, de tal maneira que, mais do que saber o nome das classes da gramática - substantivos, adjetivos, artigos, advérbios, verbo, conjunção, pronome, preposição, numeral - é importante saber suas articulações na construção dos sentidos de um texto.

Características das crônicas
A crônica é um texto narrativo que:
# É, em geral, curto;
# Trata de problemas do cotidiano; assuntos comuns, do dia a dia;
# Traz as pessoas comuns como personagens, sem nome ou com nomes genéricos. As personagens não têm aprofundamento psicológico; são apresentadas em traços rápidos;
# É organizado em torno de um único núcleo, um único problema;
# Tem como objetivo envolver, emocionar o leitor.

Alfredina Nery é professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.

Fonte:http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u18.jhtm

Nossa Língua Portuguesa

Curiosidades sobre a Língua Portuguesa

Falamos a língua de Cabral??????


............Se é que Cabral gritou alguma coisa quando avistou os contornos do Monte Pascoal, certamente não foi "terra ã vishta", assim com o "a" abafado e o "s" chiado que associamos ao sotaque português. No século XVI, nossos primos lusos não engoliam vogais nem chiavam nas consoantes - essas modas surgiram depois do século XVII, na Península Ibérica. Cabral teria berrado um "a" bem pronunciado e dito "vista" com o "s" sibilante igual ao dos paulistas de hoje. O hábito de engolir vogais, da maneira como o fazem os portugueses de hoje, consolidou-se na língua aos poucos, naturalmente. Na verdade, nós, brasileiros, mantivemos os sons que viraram arcaísmos empoeirados para os portugueses.
......... Só que, ao mesmo tempo, acrescentamos à língua mãe nossas próprias inovações. Demos a ela um ritmo roubado dos índios, introduzimos subversões à gramática herdadas dos escravos negros e temperamos com os sotaques de milhões de imigrantes europeus e asiáticos. Deu algo esquisito: um arcaísmo moderno.
............O português brasileiro levou meio milênio se desenvolvendo longe de Portugal até ficar nitidamente diferente. Mas ainda é quase desconhecido. Até os anos 90, os lingüistas pouco sabiam sobre a história da língua, sobre nosso jeito de falar e as diferenças regionais dentro do Brasil. Agora, três projetos de pesquisa estão mudando isso:
............1) Gramática do português falado: será publicada em 2001, depois de ocupar 32 lingüistas de doze universidades durante dez anos. " Ao contrário do que se acredita, as pessoas falam com muito mais riqueza do que escrevem", diz à SUPER o professor Ataliba de Castilho, do departamento de Letras da Universidade de São Paulo, que coordena o projeto.
............2) A origem de cada estrutura gramatical: Ao estudar as particularidades da língua falada, os pesquisadores reuniram informações sobre a origem de cada estrutura gramatical. A partir desses dados, estão começando a primeira pesquisa completa sobre a história do português no Brasil. A intenção é identificar todas as influências que a língua sofreu deste lado do Atlântico. Só que essas influências são diferentes em cada parte do país. Daí a importância do terceiro projeto:
............3) O Atlas Lingüístico. "Até 2005, vamos mapear todos os dialetos da nação", prevê Suzana Cardoso, lingüista da Universidade Federal da Bahia e coordenadora da pesquisa, que abrangerá 250 localidades entre o Rio Grande do Sul e a Amazônia.
............Os três projetos somados constituem, sem dúvida, o maior avanço para a compreensão da nossa língua desde que Cabral aportou por aqui.

Caldeirão de povos
............Mas, se há semelhanças entre a língua do Brasil de hoje e o português arcaico, há também muito mais diferenças. Boa parte delas é devida ao tráfico de escravos, que trouxe ao Brasil um número imenso de negros, que não falavam português. " Já no século XVI, a maioria da população da Bahia era africana", diz Rosa Virgínia Matos e Silva, lingüista da Universidade Federal da Bahia. "Toda essa gente aprendeu a língua de ouvido, sem escola", conta. Na ausência de educação formal, a mistura de idiomas torna-se comum e traços de um impregnam o outro. "Assim, os negros deixaram marcas definitivas", ressalta ela.
............Também no século XVI, começaram a surgir diferenças regionais no português do Brasil. Num pólo estavam as áreas costeiras, onde os índios foram dizimados e os escravos africanos abundavam. No outro, o interior, onde havia sociedades indígenas. À mistura dessas influências vieram se somar as imigrações, que foram gerando diferentes sotaques. "Com certeza, o Brasil hoje comporta diversos dialetos, desde os regionais até os sociais, já que os ricos não falam como os pobres"" afirma Gilvan Müller de Oliveira, da Universidade Federal de Santa Catarina.
............Mas o grande momento de constituição de uma língua "brasileira" foi o século XVIII, quando se explorou ouro em Minas Gerais. "Lá surgiu a primeira célula do português brasileiro", diz Marlos de Barros Pessoa, da Universidade Federal de Pernambuco. "A riqueza atraiu gente de toda parte - portugueses, bandeirantes paulistas, escravos que saíam de moinhos de cana e nordestinos." Ali, a língua começou a se uniformizar e a exportar traços comuns para o Brasil inteiro pelas rotas comerciais que a exploração do ouro criou.

Falas brasileiro ?
............ A lei da evolução, de Darwin, estabelece que duas populações de uma espécie, se isoladas geograficamente, separam-se em duas espécies. A regra vale para a Lingüística. "Está em gestação uma nova língua: o brasileiro", afirma Ataliba de Castilho.
............As diferenças entre o português e o brasileiro são maiores do que as existentes entre o hindi, um idioma indiano, e o hurdu, falado no Paquistão, duas línguas aceitas como distintas", diz Kanavillil Rajagopalan, especialista em Política Lingüística da Unicamp.
............Algo mais: o português é falado em vários países da África, incluindo Angola e Moçambique, em Macau, na China, em Goa, na Índia e no Timor Leste, recém-independente da Indonésia. O número de falantes beira os 200 milhões, 160 dos quais aqui no Brasil. É o sexto idioma mais falado do mundo.

( fonte: Super Interessante, abril 2000, p. 46)

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Reflita

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